Percebemos, muitas vezes, que o assunto autismo reveste-se de uma concepção de “infelicidade” por aqueles que o desconhecem e acabam escorando-se em tabus e preconceitos, em desfavor dos indivíduos com autismo e suas famílias.
Comprometimentos variáveis e crônicos em interação social, comunicação verbal e não verbal, interesses restritos e inflexibilidade (atividades ritualizadas e repetitivas), compõe o quadro do que se define como Transtorno do Espectro Autista – TEA.
Assim, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por um conjunto de sintomas que afetam a socialização, a comunicação e o comportamento, com especial destaque para o comprometimento da interação social.
Os principais sintomas que podem despertar para a investigação de TEA são: ausência de contato visual, movimentos repetitivos e esteriotipados, déficits de linguagem (verbal e não-verbal) e comunicação, ausência de reação ao ser chamado pelo nome, brincadeiras disfuncionais (brincar sem propósito), dentre outros. Nesse contexto, é essencial a avaliação médica especializada para o diagnóstico precoce, uma vez que o mesmo é iminentemente clínico, e a antecipação das intervenções melhora o prognóstico. O diagnóstico precoce pode ajudar os profissionais a desenvolverem tratamentos para reduzirem a frequência e a gravidade dos sintomas desse transtorno, tais como: problemas sensoriais, desenvolvimento de linguagem, programas sociais, dificuldades alimentares, entre outros.
Após o diagnóstico, os pais, responsáveis e familiares, experienciam as situações de lidar com o diagnóstico e de busca pelo tratamento, que geralmente envolve uma equipe multiprofissional (médico, psicólogo comportamental, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo) a depender das necessidades de cada paciente.
O autismo, do ponto de vista comportamental, é um conjunto de déficits (sociais, comunicativos, adaptativos) e excessos comportamentais (movimentos corporais repetitivos, agressividade, baixa tolerância à frustação).
Nesse ínterim, a ABA (Applied Behavior Analysis) utiliza-se de métodos com fundamentos científicos para construir repertórios socialmente relevantes e reduzir repertórios problemáticos (Cooper, Heron & Heward, 1989). Além disso, a ABA, no português Análise do Comportamento Aplicada, é a forma de tratamento que possui mais investigações científicas e relatos de sucesso dentre as terapias que lidam com indivíduos diagnosticados com autismo. Os programas ABA constroem pré-requisitos de atenção e habilidades básicas de aprendizagem para que as crianças sejam capazes de aprender sem ajuda e estarem preparadas para desenvolver conhecimentos complexos.
O contexto de aplicação da Análise do Comportamento Aplicada é bastante vasto, inclui desde clínicas, empresas, hospitais, publicidade, esporte etc. No entanto, ficou muito relacionado ao tratamento com autismo, principalmente, devido aos resultados de um estudo publicado nos EUA em 1987 pelo psicólogo Dr. O. Ivar Louvaas (Universidade da Califórnia Los Angeles).
Nesse estudo, 19 crianças entre 4 e 5 anos, diagnosticadas com autismo, foram submetidas a 40 horas de atendimento semanais – intervenção precoce intensiva. Depois de dois anos, o Quociente de Inteligência (QI) dessas crianças havia aumentado 20 pontos em média, e elas foram completamente reintegradas na escola regular. Crianças que não foram submetidas à terapia comportamental ABA, não apresentaram melhoras.
Várias escolas especializadas em Análise do Comportamento Aplicada foram criadas após essa publicação. As escolas especializadas que surgiram desde esta época ainda oferecem ensino com qualidade e estão constantemente tornando público os resultados obtidos. Entre as escolas mais conhecidas estão: PCDI (New Jersey, EUA), NECC (Massachusetts, EUA), Spectrum Center (Califórnia, EUA), Jericho School (Flórida, EUA), Ann Sulivan (Peru e Brasil), e mais recentemente, AMA (São Paulo, Brasil). Algumas dessas escolas trabalham apenas com crianças diagnosticadas com autismo e outras atendem um público mais diversificado, com outros transtornos do desenvolvimento. Porém, todas utilizam a metodologia gerada pela pesquisa na área de Análise do Comportamento Aplicada.
Em 1994, uma mãe americana Catherine Maurice, teve o diagnóstico de autismo dos seus dois filhos. Ela, então, entra em contato com os estudos de Lovaas e publica o livro “Let me Hear your voice” (Deixe-me ouvir sua voz), elevando assim a popularidade desse estudo. Houve nos EUA, uma explosão e um aumento por serviços em ABA para indivíduos com autismo, além de mudanças na legislação educacional, na regulamentação e financiamento dos serviços em ABA.
De acordo com o Departamento de Saúde do Estado de Nova Yorque, procedimentos derivados da análise do comportamento são essenciais em qualquer programa desenvolvido para o tratamento de indivíduos diagnosticados com autismo. A academia nacional de ciências dos EUA, por exemplo, concluiu que, o maior número de estudos bem documentados se utilizaram de métodos comportamentais. Além disso, a Associação para a Ciência do Tratamento do Autismo dos Estados Unidos, afirma que ABA é o único tratamento que possui evidência científica suficiente para ser considerado eficaz. (Caio Miguel, Ph.D, Psicólogo, doutor em análise do comportamento pela Western Michigan University. Artigo publicado no BAB – Boletim Autismo Brasil n.2, de junho de 2005).
A Análise do Comportamento Aplicada segue alguns princípios básicos para o ensino do indivíduo com desenvolvimento atípico como: ensino de unidades mínimas passíveis de registro; ou seja, “quebra” habilidades maiores em menores que sejam passíveis para o indivíduo aprender (esse ensino de habilidades começa do simples para o mais complexo). É de extrema importância a consistência entre as pessoas que têm contato com o indivíduo que está aprendendo, pois a equipe de profissionais, a escola e a família precisam estar alinhadas em relação aos procedimentos que estão sendo adotados, do entendimento da função do comportamento emitido, entre outros.
O ensino é individualizado, pois leva-se em consideração o repertório de cada indivíduo. A partir da avaliação inicial é estabelecido um currículo com metas e objetivos de curto e longo prazo. Todo o planejamento da intervenção é realizado, contemplando: estrutura de ensino, que poderá ser mais estruturado ou mais voltado para ensino no próprio cotidiano do indivíduo, intensidade (como horas semanais), terapeutas, necessidades familiares e escolares etc. É importante destacar que a avaliação é constante, pois norteia todo o trabalho do analista do comportamento. Para isso, os registros de todos os procedimentos são rigorosamente realizados para que haja o adequado controle dos procedimentos realizados e de seus resultados.
Outro ponto valioso na Terapia ABA é que, o aprender precisa ser sempre muito prazeroso (reforçador), as respostas esperadas (corretas) são sempre comemoradas (reforçadas positivamente), já os comportamentos problemáticos como (agressões, autolesões, respostas estereotipadas etc), não são reforçadas, o que exigi treino, habilidade e conhecimentos específicos por parte do profissional.
A Análise do Comportamento Aplicada apresenta mais de 50 anos de pesquisa científica contínua com resultados mensuráveis e efetivos. Infelizmente existem ainda várias informações errôneas devido a falta de conhecimentos, o que leva a preconceito e discriminação, além da carência de profissionais especializados. O envolvimento dos pais, da família, da escola, da equipe multiprofissional (médico, psicólogo comportamental, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo) são fundamentais durante todo o processo. O tratamento, utilizando a Análise do Comportamento Aplicada, deve ser contínuo e possibilita resultados consistentes, sendo considerado, no momento, o mais efetivo.